Realizada pela primeira vez no Vale do Ribeira, técnica utiliza estímulos elétricos para mapear área do cérebro a ser preservada durante remoção de tumor; durante o procedimento, paciente cita o nome de sua filha e acerta respostas em testes cognitivos
O engenheiro Ezeir Alves da Silva, de 33 anos, foi o primeiro paciente a passar por uma neurocirurgia acordado no Vale do Ribeira. O procedimento, inédito na região, foi realizado no Hospital Regional de Registro (HRR), unidade do governo do Estado administrada pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG), no interior de São Paulo. Realizada no dia 2 de dezembro, a cirurgia demorou oito horas e foi considerada um sucesso.
A lesão de aproximadamente 7 centímetros estava localizada no hemisfério esquerdo do cérebro, numa região que controla os movimentos da face e a linguagem e pode afetar ainda a visão e a cognição. Com o paciente acordado, os cirurgiões realizam diversos testes no cérebro, com pequenos estímulos elétricos.
"Enquanto o paciente está conversando, realizamos os estímulos nas áreas limítrofes ao tumor. Se o paciente apresenta alguma alteração ou dificuldade, sabemos que aquela região deve ser preservada. Ou seja, mapeamos as áreas cerebrais eloquentes a serem evitadas durante a ressecção do tumor", explica o neurocirurgião Dr. Rafael Pereira Monteiro. Além dele, também participaram da cirurgia o neurocirurgião Dr. Guilherme Augusto Alcântara, o neurologista e neurofisiologista Dr. Marcelo Freitas Schimid, e os anestesistas Dr. Cláudio Garini e Dr. Darizon José de Oliveira.
Além de observar em tempo real as reações provocadas por meio das estimulações, com auxílio da ultrassonografia transoperatória os médicos também verificam a exata localização da lesão no cérebro exposto e, dessa forma, escolhem a melhor estratégia para a retirada do tumor. A primeira etapa da cirurgia - até a abertura do crânio - ocorre com o paciente totalmente sedado. Depois de ser acordado, Ezeir reagiu o tempo todo aos estímulos enquanto conversava com os enfermeiros Fabio Bene e Gissele Godinho. Nos testes feitos pelo neurologista Dr. Marcelo, o paciente disse o nome de alguns desenhos, interpretou uma imagem e leu algumas frases. Também falou o nome e a idade da filha, a pequena Clara. "Minha filha é muito importante para mim", afirmou, durante a cirurgia.
"Considerando que o objetivo era retirar a maior quantidade de lesão possível preservando as funções de linguagem, motoras e cognitivas, é possível dizer que a cirurgia foi um sucesso e obteve o resultado esperado. Conseguimos oferecer ao paciente a possibilidade de manter sua qualidade de vida mesmo diante de uma doença potencialmente grave", avaliou o neurocirurgião Dr. Rafael Monteiro. "O sucesso do procedimento só foi possível devido ao envolvimento de toda a equipe do hospital", destacou o médico.
Ezeir só descobriu que tinha um tumor no cérebro após passar por consulta e exames no HRR, em outubro deste ano. A princípio ele atribuiu o mal-estar que sentia à ansiedade devido à pandemia, já que passou a ficar em casa a partir de março. Chegou a fazer tratamento com psiquiatra, mas os sintomas foram piorando. Após ter uma convulsão, foi encaminhado para o ambulatório do HRR. "Apesar de todo o receio diante da gravidade do caso, os médicos e demais profissionais me passaram muita confiança. Só tenho a agradecer por tudo o que a equipe fez por mim", afirmou o paciente, já na enfermaria. Cinco dias depois da cirurgia ele recebeu alta.
"É uma imensa satisfação ver o nosso hospital realizando procedimentos que antes só eram acessíveis em grandes centros, ofertando saúde da melhor qualidade aos moradores do Vale do Ribeira, pelo SUS. Estamos colocando em prática os valores do ISG, de promover saúde com a eficiência que a nossa gente precisa e merece", destaca a diretora técnica do HRR, Dra. Manuella Amaral Faria.
Sobre o Hospital Regional de Registro-SP
Em atividade desde agosto de 2018, o Hospital Regional de Registro foi construído pelo Governo do Estado através do "Saúde em Ação", programa da Secretaria Estadual da Saúde em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sendo referência em cirurgia cardíaca, neurocirurgia, ortopedia e traumatologia para 18 municípios do Vale do Ribeira e Litoral Sul. A unidade é administrada em parceria com o Instituto Sócrates Guanaes, instituição sem fins lucrativos qualificada como Organização Social de Saúde.
Atualmente o ISG administra nove unidades de saúde nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, sendo seis hospitais. No Vale do Ribeira, o ISG atua no HRR e também no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Pariquera-Açu.