Com elementos simbólicos regionais, produção da obra “Atemporal” é assinada pela artista gráfica e muralista registrense Carla Takushi.
Cem anos se passaram desde que o prédio que hoje sedia o Sesc Registro-SP foi implantado à beira do rio Ribeira, no centro velho da cidade. Muitas fases, ocupações e funções ocorreram em suas instalações e, um século depois, o conjunto arquitetônico que simboliza o período da colonização japonesa no Vale do Ribeira segue testemunhando novas histórias da cidade, do território do Vale do Ribeira e de seus diferentes povos.
É com elementos representativos desse tempo e dessas histórias que a artista gráfica e muralista Carla Takushi desenvolveu uma intervenção artística na escadaria externa do prédio do Sesc Registro-SP, com acesso pela rua Miguel Aby-Azar. Registrense e descendente de imigrantes japoneses, Carla realiza trabalhos com foco na região do Vale do Ribeira. “Fazer esse projeto para o Sesc, e com um tema tão especial como o centenário do prédio, é muito marcante porque mexe com memórias afetivas e familiares”, ressalta.
Na pintura denominada “Atemporal”, a artista colocou o tempo como elemento central e, em torno dele, diferentes ícones representando elementos que se vinculam aos 100 anos de histórias do prédio e ao transcorrer desse tempo na região. “Estão ali representadas a relação da arquitetura com a natureza, com a terra e a água, as passagens históricas que lembram não só os tempos de fartura, mas também os períodos de suor, de muitas lágrimas, e ainda os elementos que ilustram a presença do edifício histórico nesse tempo”.
Quem passa pelo local pode observar as referências: os dois sóis, a lua, a estrela, a fauna e a flora, a cor terrosa que remete ao prédio centenário, a andorinha com o broto de chá, a folha de bananeira e muitos, muitos grãos de arroz. Além de ser um alimento tradicional na cultura japonesa, o arroz é o produto que está na origem da implantação do prédio, construído pela companhia Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK) que organizava a colonização nipônica na região no início do século passado. Por várias décadas, o conjunto arquitetônico sediou um engenho de arroz que chegou a ser o maior da América Latina. “É como se os grãos de arroz estivessem costurando, amarrando os demais elementos, lembrando pontos do bordado sashiko, uma técnica tradicional japonesa que era usada para remendar retalhos de roupas”, explica Carla Takushi. {alertInfo}
No mural também estão representadas algumas raízes, que saem da escadaria e avançam sobre parte da calçada. Para a autora, são componentes que sugerem continuidade e criação de novas histórias por meio da presença do Sesc no prédio centenário. Entre os diversos desenhos e cores, estão também frases ditas por protagonistas da região que participam do “Que história é essa?”, série audiovisual do Sesc Registro, disponível no YouTube, e que está registrando memórias individuais e coletivas relacionadas ao prédio, ao rio Ribeira e ao território do Vale do Ribeira.
Sobre a artista
A registrense Carla Takushi é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP e como artista gráfica e muralista tem atuado desde 2018 em trabalhos e projetos conectados ao Vale do Ribeira. Um dos mais recentes é o mural criado na fachada do Memorial da Imigração Japonesa do Vale do Ribeira, em Registro-SP, onde representou o edifício histórico do KKKK, entre outros elementos que contemplam a trajetória dos imigrantes japoneses na região.
Na área da comunicação produz conteúdo para a página RegistroCity e compartilha informações de Registro-SP e região. Com essa atuação, conquistou o segundo lugar como embaixadora do Vale do Ribeira, concurso criado pelo Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Vale do Ribeira (Codivar), dentro do Plano de Economia Criativa “Dá Gosto Ser do Ribeira”.
Fotos: Lívia Badur
Mais informações:
- https://www.sescsp.org.br/unidades/registro/
- https://www.facebook.com/sescregistro/
- https://www.instagram.com/sescregistro/
- https://www.youtube.com/c/SescRegistroSP